quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Pessoas e Potes de Geléia

Transformamos as pessoas em potes de geléia.


Sim, toda vez que julgamos precipitadamente, que criamos rótulos, estamos comparando as pessoas a objetos.


Objetos podem, muitas vezes, ser facilmente explicados, descritos, compreendidos. Basta um desenho, um esquema, ou algumas palavras e está tudo resolvido.


Ficaram famosos os jogos de mímica, nos quais os oponentes precisam adivinhar uma palavra, uma frase, através da compreensão dos gestos do outro.


O problema está quando desejamos usar esta nossa habilidade de descrever rapidamente alguma coisa, no convívio com as pessoas.


Pessoas são Espíritos, almas complexas, de realidades múltiplas e possibilidades infinitas.


Avaliá-las com superficialidade é desrespeitá-las em sua essência divina.


O grande escritor russo Léon Tolstoi, afirma que um dos nossos preconceitos mais comuns e disseminados, é o de que cada pessoa tem uma característica fixa.


Segundo ele, tal preconceito faz com que existam apenas pessoas boas ou pessoas más; pessoas inteligentes ou pessoas estúpidas; pessoas frias ou pessoas quentes.


Aí começam os rótulos.


Muitas vezes, com o objetivo de simplificar, nós empobrecemos e menosprezamos as pessoas.


Até nossos hábitos de linguagem precisam ser revistos, pois muitos deles já nos acostumam ao rótulo fácil.


Você lembra de Fulano de tal? - Não, não lembro. - responde o outro.


Aquele magrinho com nariz pontudo, lembra?


Ah, sim, claro, agora lembrei!


Pois aí está o embrião do vício dos rótulos.


Pode ser uma observação sem maldade, que apenas ajude a lembrar mais facilmente das pessoas, mas, por vezes, já desenvolve em nós esta prática desagradável.


Mais um pouco e estamos no nível de observações como: Beltrano é falso mesmo. Cuidado com o que ele diz!


Obviamente que podemos identificar as dificuldades das pessoas. É algo comum da vida de relacionamento.


Mas, avaliar toda uma personalidade, todo o universo de um Espírito encarnado, e resumi-lo em uma frase, em um rótulo, é pequeno e simplista demais.


Além de ser desrespeitoso.


Aplicando um rótulo a alguém, principalmente os negativos, estamos dizendo que ninguém é capaz de mudar, de crescer.


Estamos dizendo que a pessoa é assim e pronto.


Chegamos a aplicar rótulos a nós mesmos, por vezes.


Colamos na testa um adesivo dizendo: Sou teimoso. Não pense em vencer qualquer discussão comigo.


É uma auto-rotulagem, uma expressão de acomodação perante uma imperfeição, da qual, muitas vezes chegamos a nos orgulhar.


Até mesmo os rótulos positivos são preocupantes.


Quando, por exemplo, aquele amigo que carregava em sua fronte o rótulo de bonzinho, faz conosco algo que mostra uma característica oposta a essa, vem a decepção.


Nunca esperava isso dele ou dela... - expressão típica de quem não conhece o outro em profundidade, e que preferiu ficar na superficialidade da rotulagem.


Todos ainda somos almas sendo automoldadas a todo instante.


Nem temos imperfeições fixas, eternas, que ficarão para sempre conosco, nem virtudes em grau de excelência, que não nos permitam o equívoco em situação alguma.
 emos: rótulos são para potes de geléia, e não para pessoas.


Com citação de Léon Tolstoi, extraída do livro Pensamentos para uma vida feliz, de Tolstoi, ed. Prestígio, 1999.

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