Vive em Pirenópolis, interior de Goiás, um homem já
bastante idoso, conhecido como seu Rico. Desde que se
conhece por gente, seu Rico pensa diferente, como costuma
dizer quem o conhece.
Sua filosofia, isto é, sua idéia, como ele diz, é bem
simples. Por exemplo, quando alguém se queixa de que tudo
está difícil, complicado, sua explicação é mais ou
menos assim: “Oi meu fio, este mundo tem muita coisa boa e
muita coisa bonita. Um jardineiro num precisa gostá de rosa
pra cuidá de rosa? Intão, pra vim pra este mundo a gente,
precisa gosta deste mundo. Se ocê veio preste mundo e num
gosta dele, intão pro que veio?”
E quando a gente concorda que este mundo tem muitas
belezas, como as flores, os pássaros, as crianças, ele
retruca: “Quar o que! Num é só isso que o mundo tem de
bonito. Quando a gente tem vontade de cantá, intão a gente
canta; quando a gente tem vontade de dançá, intão a gente
dança; quando tem argúem que tá querendo oivi uma
história e agente tá querendo contá, intão a gente
conta. I quando a comida tá boa, intão a gente come” -
diz ele rindo. “Isso é que é a belezura da vida, uai!”
– encerra;
E quando alguma moça casada vem se queixar que arruma a
casa, cuida da roupa, faz comida, tudo com muito carinho, e
parece que o marido não vê o que ela faz, não liga para
nada, sua orientação é mais ou menos assim: “Uai! Mai
se ele num liga, intão pru que ocê faiz as coisa pensando
nele? Faiz assim: dispois que ocê arruma o quarto e ele
tivé bem bonito, ocê faiz como quem vai sai, para na porta
do quarto, oia pra tráis, oia tudo bonito, bem arrumadinho,
que ocê arrumô, e tira uma fotrografia com os óio. Quando
ocê fizé uma comida bem boa, ocê arruma a mesa, bem
direitinho, fica de longe, despois tira uma fotrografia dela
com os óio, senta e come. Faiz de conta de ocê preparou um
banquete procê. Quando o marido quisé oia, ele que oie!”
E assim, cantando quando tem vontade, dançando quando tem
vontade, contando histórias quando tem vontade, fazendo as
coisas de forma a lhe darem prazer, seu Rico vai levando sua
vidinha já bastante alongada, mas com muita disposição,
saúde e bom papo, como ele mermo diz.
Fiquei até tentado a perguntar seu nome verdadeiro e
porque as pessoas o chamavam de seu Rico, mas não tive
coragem. Vocês acham que precisava?
Dorival (CASA DE LUCAS)
bastante idoso, conhecido como seu Rico. Desde que se
conhece por gente, seu Rico pensa diferente, como costuma
dizer quem o conhece.
Sua filosofia, isto é, sua idéia, como ele diz, é bem
simples. Por exemplo, quando alguém se queixa de que tudo
está difícil, complicado, sua explicação é mais ou
menos assim: “Oi meu fio, este mundo tem muita coisa boa e
muita coisa bonita. Um jardineiro num precisa gostá de rosa
pra cuidá de rosa? Intão, pra vim pra este mundo a gente,
precisa gosta deste mundo. Se ocê veio preste mundo e num
gosta dele, intão pro que veio?”
E quando a gente concorda que este mundo tem muitas
belezas, como as flores, os pássaros, as crianças, ele
retruca: “Quar o que! Num é só isso que o mundo tem de
bonito. Quando a gente tem vontade de cantá, intão a gente
canta; quando a gente tem vontade de dançá, intão a gente
dança; quando tem argúem que tá querendo oivi uma
história e agente tá querendo contá, intão a gente
conta. I quando a comida tá boa, intão a gente come” -
diz ele rindo. “Isso é que é a belezura da vida, uai!”
– encerra;
E quando alguma moça casada vem se queixar que arruma a
casa, cuida da roupa, faz comida, tudo com muito carinho, e
parece que o marido não vê o que ela faz, não liga para
nada, sua orientação é mais ou menos assim: “Uai! Mai
se ele num liga, intão pru que ocê faiz as coisa pensando
nele? Faiz assim: dispois que ocê arruma o quarto e ele
tivé bem bonito, ocê faiz como quem vai sai, para na porta
do quarto, oia pra tráis, oia tudo bonito, bem arrumadinho,
que ocê arrumô, e tira uma fotrografia com os óio. Quando
ocê fizé uma comida bem boa, ocê arruma a mesa, bem
direitinho, fica de longe, despois tira uma fotrografia dela
com os óio, senta e come. Faiz de conta de ocê preparou um
banquete procê. Quando o marido quisé oia, ele que oie!”
E assim, cantando quando tem vontade, dançando quando tem
vontade, contando histórias quando tem vontade, fazendo as
coisas de forma a lhe darem prazer, seu Rico vai levando sua
vidinha já bastante alongada, mas com muita disposição,
saúde e bom papo, como ele mermo diz.
Fiquei até tentado a perguntar seu nome verdadeiro e
porque as pessoas o chamavam de seu Rico, mas não tive
coragem. Vocês acham que precisava?
Dorival (CASA DE LUCAS)
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